segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Quinto Capítulo: Das diferenças.

"Nossa amiga, na verdade, se divertia e se dava bem com as quatro amigas tão diferentes entre si. Sua personalidade a ajudava muito nisso. Seu perfil normalmente ponderado (apesar de às vezes ser explosiva) a fazia pensar antes de falar. Raramente se indispunha com alguém. Para que ela tomasse partido de alguma coisa, essa coisa tinha que ser extremamente verdadeira e ir de encontro com seus pensamentos e ideais. Como isso é difícil, ela raramente discutia. No alto de seus 15 anos, Carolina já sabia que a verdade nunca é absoluta e que ninguém tem a razão sempre. Por isso, levantar bandeiras não fazia sua cabeça.

Pois bem, essa “turrrma”, como dizia um tio querido, causava!!!! Em todos os lugares a que iam, desde um simples passeio ao shopping, até um super baile de um colégio famoso na cidade, elas não passavam despercebidas. Eram gatas, charmosas e gostosas. Sem querer causavam inveja. Bom, era sem querer, mas elas gostavam disso. O desejo dos meninos por elas era impressionante, quase hipnótico. E também unânime. A maneira como se vestiam, as brincadeiras que inventavam, as músicas que faziam parodiando a vida dos professores e dos amigos, era tudo incrível. Todos, meninos e meninas queriam fazer parte, de alguma maneira, daquela turma. Eram fiéis umas ás outras, o grupinho era bem fechado. Apenas Carol tinha passagem livre. Era membro permanente da turma, mas por causa de sua peculiar inquietude, não fazia parte apenas de um grupo. Como disse, sua inquietude não a permitia participar de um mesmo círculo de amigas por muito tempo. Ela gostava mesmo era da diversidade de opiniões, das diferenças de pensamentos, de humor e de temperamentos.

Naturalmente, quando apenas meninas se relacionam, as brigas e desentendimentos são apenas uma questão de tempo. Ainda mais quando não se fala o que realmente se pensa, se sente e se deseja em relação a amizade. Ainda mais numa amizade como a delas, que apesar de se gostarem, a rivalidade era latente. A disputa era subjetiva. Cada uma queria ser a mais popular, a mais bonita e a mais desejada.

Carol era bem recebida toda vez que sentava com elas para tomar lanche ou nas eventuais aulas vagas. Fofocavam, riam, falavam besteira dos outros, do tipo de roupa e de penteado das colegas de classe, faziam comentários maliciosos sobre os meninos das séries mais avançadas, que geralmente eram os meninos que mais chamavam a atenção, comiam uma o lanche da outra, e sobre tudo tiravam sarro de tudo e de todos. Muitas vezes eram cruéis, inclusive. Carol, contudo, sentia que sua “liberdade” naquele grupo era limitada, como que antes dela se sentar as amigas combinavam o que poderia ser dito em sua frente ou não. Piadinhas cheia de duplo sentido, sobre assuntos que ela não dominava, com senhas e códigos particulares, a fazia ter certeza de que definitivamente aquele não era o seu grupo! E só seria se ela entrasse na regra e principalmente, se fizesse parte apenas desse grupo. Só desse. E essa idéia não a agradava. Era livre demais para ser fiel a uma confraria de quatro amigas. Se gostavam, ela sabia disso. Mas isso não era o suficiente para manterem uma relação fechada a esse ponto. Claro que não.

Uma conversa que teve com Bia, uma tarde quando estavam fazendo trabalho sobre Geografia, a fez ter certeza de que as diferenças entre elas a incomodava:
-Você viu com quem o Danilo ficou? - comentou Bia, com sua acidez peculiar.
-Vi. A escola toda viu...
-E o que você achou?
A maneira cínica-escorregadia de Bia nos últimos tempos estava deixando Carol irritada, quase mal educada:
-O que eu achei???? Eu não achei nada. Ou melhor, achei sim. Achei super legal o Danilo mostrar para a galera, que fora do seu grupinho tem meninas bem maneiras. E que seu nariz empinado já estava perdendo o charme.
-Perdendo o charme? O Danilo? Tá bom!!!
-Eu já gostei dele, você sabe bem disso, mas hoje não vejo a menor graça nesse jeito metido do Danilo. Ele é super charmoso, mas não é o rei.
-É, concordo. Mas isso não lhe dá o direito de ficar com a “melão”...
“Melão” era o apelido de uma garota da outra classe, a Luciana "melão", que por causa de seus seios grandes, desproporcionais até, Bia e Joana a rotularam-na assim. Sem pena.
-Como assim, não tem o direito???? Eu to achando que quem está na fila do Danilo agora é você.
-Eu? Até parece. Eu só acho que não tem nada a ver eles juntos. Até porque, ele não vai namorar a “melão” mesmo...
-Como você tem certeza disso?
-É só olhar as roupas dela, seu cabelo e brincos. Dá até vontade de rir. Ele só podia estar pagando promessa quando ficou ela.

Carol concordava com ela. Luciana não era uma expert em moda nem muito bonita, mas a coragem e leviandade com que ela dizia isso, a fazia refletir até que ponto ser sincera é dizer o que se pensa sobre os outros sem ponderar as conseqüências desses comentários. Além do mais, esses comentários não tinham a intenção de ajudar, apenas de maldizer, de fofocar, de criar polêmicas. Com isso Carol relutava em concordar."

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