sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Vamos Maiêuticar?

Provavelmente a maioria de meus leitores nunca ouviu falar nesse termo, maiêutica. Ou se ouviu, não teve a coragem de perguntar sobre o que se tratava. Pois bem, contrariando a própria maiêutica (que ela me perdoe) explicarei aqui ao que ela se refere. E mais, quero plantá-la em suas vidas e incentivá-la como prática.

Recorrendo ao nosso filósofo-mór, o tal do “sifu”, explico-lhes quem minha dama de hoje é. Sabe aquela que ensina a pescar ao invés de dar o peixe já assado? A maiêutica é assim. Na verdade, ela vai mais longe. Ela faz com que o pescador desenvolva técnicas melhores e mais modernas, que ele pense e desenvolva mecanismos mais eficazes e menos agressivos ao meio ambiente. Como vêem, ela é forte, poderosa, mas sem deixar de ser doce e sutil.

Infelizmente a educação filosófica em nossas escolas, tanto nas públicas quanto nas particulares, é lamentável. Aula de filosofia soa como um palavrão para a maioria dos adolescentes e, por conta disso nos tornamos, em grande maioria, adultos ignorantes e desconhecedores de métodos e táticas de educação e, por que não, de desenvolvimento intelectual que a filosofia nos apresenta, de maneira delicada e prazerosa. Uma delas é minha querida maiêutica.

Voltando um pouco ao século 469 A.C., quando em Atenas, Grécia, nascia o influente e eloqüente filósofo Sócrates. Sem ter deixado nenhum documento escrito, por naquela época ser natural e predominante o ensino oral, Sócrates desenvolveu um mecanismo de raciocínio baseado em sua convicção de “que só sei que nada sei”. A partir dessa ironia, Sócrates, com a ciência de que só sabia que nada sabia, percebeu que tudo é discutível, que nada é definitivo e que a maneira mais eficiente de desenvolver o raciocínio era... perguntando! Nesse exercício de constantes questionamentos e de reconhecimento da própria ignorância, é que surgiu a maiêutica.

Etimologicamente falando, maiêutica quer dizer “dar à luz”, “parir”. No sentido filosófico, quer dizer “ajudar a parir novas idéias, novos raciocínios”. Tudo isso sem dar respostas prontas, mastigadas. A idéia é semelhante, como já citei, à da pescaria. Nesse caso, a maiêutica proporciona ao indivíduo a chance de pensar e resolver problemas de maneira independente e autônoma. Um exemplo prático da aplicação da maiêutica em nosso cotidiano: quando um funcionário pergunta alguma coisa referente ao seu cargo um bom chefe prontamente e de maneira generosa, satisfaz sua dúvida. Já um chefe verdadeiramente generoso e “maiêutico”, que visa não só o crescimento da empresa, mas também o do funcionário como ser pensante, usa a maiêutica como método e logo lhe faz outra pergunta, indagando-o, por exemplo, em como ele resolveria tal problema, o que ele faria. Dessa maneira, estabelecesse aí o genial exercício socrático, eliminando a preguiça de pensar e de questionar os mecanismos pré-estabelecidos.

Em nossas vidas podemos fazer isso não só com nossos funcionários, mas com nossos filhos, incentivando-os a refletir e a crescer de maneira mais lúcida, responsável e consciente. Com nossos amigos, ao fazê-los enxergar que nem sempre têm a razão e que se auto-questionar é a maneira mais segura de manter os pés nos chão, sempre. Com nossos pais e fazê-los perceber que a verdadeira sabedoria está em reconhecer que quanto mais o tempo passa, mais percebemos que não sabemos de nada e que não somos os donos da verdade simplesmente por termos mais experiência. Com nossos alunos, ao incentivá-los a pensar, pesquisar e inquirir, o processo de educação será muito mais rico e atingirá seu ponto ideal: transformar pessoas em cidadãos, capazes de lutar por seus direitos e ideais. Quando fizermos isso com as pessoas ao nosso redor, ao contrário do que possam pensar alguns, não será a dúvida a reinante, mas sim o esclarecimento e o crescimento intelectual e emocional. Não aceitaremos de boca fechada os desmandos dos políticos e dos magistrados. Saberemos nos defender, de maneira sensível, porém forte, de policiais e chefes arrogantes. Saberemos enfim, que eles estarão, na verdade, é afogados em sua própria ignorância.

O conhecimento revela um mundo novo ao indivíduo. A maiêutica está aí, de maneira benevolente, para nos guiar e nos auxiliar nesse rico processo. Ela nos ensina a refletir, a não aceitar nada como aparentemente se apresenta, a questionar e duvidar. Na verdade isso é filosofar, na sua forma mais simples e crua.

Sócrates elaborou a maiêutica com a intenção de que as pessoas começassem a refletir e questionar o mundo em que viviam. Tudo baseado nos ideais da racionalidade, sem devaneios ou viagens, que isso fique claro. Ele queria que as pessoas reagissem aos conceitos e dogmas, que foram se firmando com o passar do tempo sem serem criticados ou questionados. Pois bem, façamos como ele, vamos incentivar o senso crítico, vamos estimular o pensar, vamos enfim, “maiêuticar”!!!

Um comentário:

Anônimo disse...

Nem me fala em Sócrates. Estou tentando ler "O Mundo de Sofia" há um ano, mas não consigo terminá-lo....acredita??
E fala justamente disso, não tão simples assim (o que eu acho bem mais fácil de entender), mas basicamente a idéia é a mesma. Quem sabe agora eu consigo entender melhor!!!
Tomara