sábado, 17 de janeiro de 2009

Bebe or not Bebe?

Anita sabia que seria difícil. Voltar a trabalhar e deixar seu bebê de 5 meses na creche seria verdadeiramente difícil. Seria, na verdade, dilacerante. Que tipo de mãe consegue, sem remorso algum, deixar seu filho indefeso e inocente nas mãos de pessoas que nem o conheciam até aquele instante? Talvez seja por isso que as mulheres nunca vão chegar ao poder de igual para igual com os homens, pensa ela. Parimos, isso já cria uma diferença abissal entra as partes... Parimos e choramos quando nos deparamos com situações como essa. Pois bem, se é inevitável o confronto, vamos a ele.
Logo cedo, revisando a malinha do pequeno João, Anita já começou a sofrer. Uma dorzinha começou a aparecer lá no fundo da já tão conturbada cabeça. As cobranças começaram ali: pq foi ter um filho se não conseguiria segurar a onda? Pra deixá-lo em uma escola para os outros cuidarem? Pra vê-lo acordado três ou quatro horas por dia? Tudo para ganhar um salário menor que seu marido e trabalhar muitas vezes mais que ele? Pra receber promoções, ser reconhecida e valorizada? É... Isso é bom... Mas colocando os pés no chão, Anita sabia que no futuro seria cobrada por essa ausência, que não ficaria impune por essa escolha.
O problema de tudo é que não estava segura. Essa insegurança, na verdade, vinha desde a época da gestação. Não sabia se queria engravidar. Bom, ela sabia sim. Não queria. Mas aos 34 anos, 5 de casada, já era tempo. A família, seus amigos, seu marido e principalmente a biologia a cobravam. Não teve saída.
Hoje estava realmente feliz, mas frustrada. Mesmo querendo dar conta de tudo, sabia que seria impossível. Ela não era o tipo super mulher e não queria ser. Se respeitava. Respeitava seus limites e, principalmente seus medos. Tinha medo de não emagrecer, de voltar ao trabalho e ter alguém melhor em seu lugar, de seu pequeno não se adaptar ao ambiente escolar, de seu marido não lhe ajudar, de suas amigas não mais a chamarem “prum” happy hour, de ser super-protetora, de ficar louca!!!!
Ao chegar à escola, começou a chorar. Ridículo, pensou. Mas não se conteve. Era pura emoção. Deu várias recomendações, mamadeira, chupeta, fraldas, roupinha, remédios, telefones para contato. Só faltou o teste do pezinho. Como João ainda é muito pequeno, não sentiu, a principio, a mudança. Talvez nem sentisse, mas apenas a possibilidade de isso acontecer já a entristecia.
Deu beijinhos para não acordá-lo e saiu de fininho. Ao chegar ao trabalho, aquela festa. Como é o João, como é ser mãe, onde ele estava, enfim todas as perguntas que ela não queria que fizessem. Mas enfim, estava contente com sua postura.
Durante o dia, ao perceber que seu trabalho estava lá, são e salvo, que seu marido estava sim tão preocupado quanto ela com o filho, que na escola tudo estava indo bem, e que em casa a secretária estava dando conta de tudo, Anita percebeu que seria difícil sim. Mas que o segredo seria viver um dia de cada vez. Matar um leão por dia, que tudo se encaixaria. Talvez assim ela até emagrecesse... O que seria ótimo!
No fundo, bem no fundinho, apesar do pavor, ela sabia que daria conta de tudo. A se daria!!

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