terça-feira, 6 de janeiro de 2009

As várias opções femininas.

"Se minha avó paterna tivesse seguido a vida coorporativa ela com certeza teria sido uma grande executiva, provavelmente presidente, ou como se diz hoje, CEO de alguma holding. Pq. acho isso? Pois bem. Minha avó, Maria da Conceição Faustino, portuguesa, veio ao Brasil já com seus 33 anos, 5 filhos ainda crianças, um bebê de seis meses, no caso meu pai, de navio, viagem que chegava a durar 2 meses. Bom, só essa mudança drástica de país, fugindo de outro em guerra, por si só já é demonstração de arrojo e coragem, pré-requisitos básicos para um CEO hoje.

Não se dando por contente, aqui no Brasil ainda teve mais dois filhos... Corajosa... Católica fervorosa, em hipótese alguma evitaria filhos, caso já houvesse essa opção. Aqui, ajudou a construir sua casa, botando a mão na massa mesmo. Meu pai conta que ela, de tempos em tempos, pintava toda a casa. Ou melhor, por causa do pouco dinheirinho, caiava a casa. Detalhe, sem a ajuda de ninguém.

No quesito filhos, claro que sobrava para minha saudosa tia Mana e meu tio Oscar, os primogênitos. Consta que sem eles minha avó teria endoidado. Outra característica básica de um CEO, se cercar de ótimos assistentes. E como boa matriarca, delegava sem perder o controle. E cobrava com eficácia. Outra similaridade com o dito presidente.

Nas tarefas do lar dava conta de tudo. Diz a lenda que a roupa que era usada num dia, no outro já estava na gaveta, lavadinha e passadinha. E se houvesse um furinho, ela logo cerzia, pois “só é pior que roupa furada, a roupa suja.” E como se não bastasse, lavava roupa para fora para incrementar o orçamento. Ufa!!!! Dinâmica, como todo bom CEO.

Outra característica imprescindível para um dirigente é saber controlar as finanças. Dizem que, apesar de analfabeta, ninguém a passava para trás. Nem no troco nem no salário. E ai de quem tentasse...

Ela ainda costurava, bordava e estava sempre bonita. Como toda executiva, gostava de cuidar da aparência. Era vaidosa. Suas mãos estavam sempre feitas. Fazia questão que fizessem sua unha, mesmo quando estava no hospital. Apesar de fúnebre, a última imagem que tenho dela é em seu caixão. Ela estava de batom clarinho e com as unhas feitinhas. Claro, suas filhas sabendo como era, fizeram seu gosto.

Minha avó materna também foi por esse caminho. Incríveis doze filhos!!!!!! Meu deus, não consigo nem imaginar o que isso representa... Na verdade, a grande diferença entre elas é que lá, quem mandava era meu avô. Uma típica família patriarcal. Nesse caso minha avó, Maria de Nazaré, natural de Caconde, São Paulo, passou a vida como uma boa “lobista”. Negociando aqui o passeio de um filho, negociando ali o namoro de uma filha, outras não negociando nada, preferindo retroceder, posto que meu avô não era bem o que chamamos de uma pessoa fácil de lhe dar.

Vieram do Paraná, sem ter bem onde ficar. Depois, levantaram um barracão num terreno recém comprado, passaram fome, frio, necessidades diversas. E minha avó lá, firme e forte, organizando e fazendo o meio de campo de toda a família.

Assim como minha avó portuguesa, também recebeu a grande ajuda de seus filhos mais velhos, meus tios Hamilton e Fiinha. Como sempre costurou para fora, fazendo de tudo, e ainda costura, fazendo lindas colchas de retalho (aceitamos encomendas), sem a ajuda deles, ela confirma, não sabe como teria sido. Ah, além de costurar, faz tricô e crochê como poucas.

Doce, meiga, gentil e discreta, vive hoje, com 84 anos sozinha e muito feliz. Sua boa saúde, dizem, é por causa da cuca fresca que sempre teve para enfrentar a vida e agüentar a braveza de meu avô. Lobista e política como poucos. Provavelmente hoje, ganharia muito dinheiro intermediando grandes e difíceis negociações.

Já naquela época cada uma demonstrava aptidão para uma carreira diferente, entretanto não tinham alternativas, deveriam, sem reclamar ou pestanejar, seguir a vida caseira. Não podiam escolher que vida queriam seguir. Algumas, como minhas avós e minha mãe, ainda ajudavam no orçamento.

Hoje, além de poder escolher a carreira que se quer trilhar, a mulher pode ainda optar em ficar em casa. E aí é que está a graça, ela pode escolher. Não é obrigação. Ser do lar, cuidar da casa, dos filhos e de si mesma se tornou uma das tantas escolhas que a mulher pode fazer hoje. Pode trabalhar fora, se formar, fazer mestrado, ser uma CEO, ou pode, de maneira tão digna e importante, ficar em casa, trabalhando em seu home-office, ou não, cuidando mais de perto dos filhos, das roupas e da comida. Tudo por livre escolha.

Assumo, depois de muito relutar que hoje, prefiro a segunda opção. Com minha primeira filha trabalhei fora e foi fantástico. Entretanto hoje, com o segundo, acompanho de mais perto, brinco, vejo filmes, levo a natação, faço comida, cuida da minha pequena casinha, bato mais papos, faço bolos, escutamos boas músicas, lemos, participo mais da vida escolar e como toque final, sempre coloco uma flor na janela do quarto. Tudo com muito prazer e carinho. Além de escrever meus textos, claro. E para também ajudar na grana, estou pensando em voltar a vender alguma coisa. Acho que minha avó teria orgulho de mim.

Penso que não devemos rotular as pessoas não só pelo que fazem, por qual trabalho exercem. Hoje vejo que meu trabalho é tão crucial e importante para civilização quanto outro: educar meus filhos. Minhas avós criaram filhos corretos e honestos. E olha que foram, no total, 20 crianças que se tornaram bons adultos. Elas fizeram sua parte. Estou fazendo a minha.
Confesso que sofro um pouco de preconceito. Ainda, algumas pessoas perguntam, com um “que” de indignação, se eu “SÓ” sou dona de casa. Eu, toda prosa, respondo: Só!! E quer saber, sou muito feliz assim."

Um comentário:

Anônimo disse...

Que lindo!! Adorei saber a história da sua família.
E quem acha que é pouco, é pq nem uma louça sabe lavar....

Saudadona!!
Beijocas